quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Soneto de Fidelidade

    De tudo ao meu amor serei atento
    Antes, e com tal zelo, e sempre e tanto
    Que mesmo em face do maior encanto
    Dele se encante mais meu pensamento.

    Quero vivê-lo em cada vão momento
    E em seu louvor hei de espalhar meu canto
    E rir meu riso e derramar meu pranto
    Ao seu pesar ou seu contentamento

    E assim, quando mais tarde me procure
    Quem sabe a morte, angustia de quem vive
    Quem sabe a solidão, fim de quem ama

    Eu possa me dizer do amor (que tive)
    Que não seja imortal posto que é chama
    Mas que seja infinito enquanto dure.


                                  (Vinicius de Moraes)

Aprendendo com a natureza

''Acredita, porque sei, tu encontrarás alguma coisa muito maior nas florestas que em livros.
Pedras e árvores te ensinarão aquilo o que não poderás aprender dos mestres.''


                                   São Bernardo de Clairveaux

sábado, 26 de setembro de 2009

Metade

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

                    
                                                     Oswaldo Montenegro

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

poema de hoje

“os pássaros nascem na ponta das árvores
as árvores que eu vejo em vez de frutos dão pássaros
os pásaros são os frutos mais vivos das árvores
os pássaros começam onde as árvores acabam
os pássaros fazem cantar as árvores.”


    Ruy Belo. Palavras Certas 1993

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A palavra mais rica da Língua Portuguesa:

M E R D A:


(Nem o Aurélio definiu tão bem)
A palavra mais rica da língua portuguesa é a palavra MERDA.
Esta versátil palavra pode mesmo ser considerada um coringa da língua portuguesa.


Vejam os exemplos a seguir:
1) Como indicação geográfica 1:
Onde fica essa MERDA?
2) Como indicação geográfica 2:
Vá a MERDA!
3) Como indicação geográfica 3:
17:00h - vou embora dessa MERDA.
4) Como substantivo qualificativo:
Você é um MERDA!
5) Como auxiliar quantitativo:
Trabalho pra caramba e não ganho MERDA nenhuma!
6) Como indicador de especialização profissional:
Ele só faz MERDA.
7) Como indicativo de MBA:
Ele faz muita MERDA.
8) Como sinônimo de covarde:
Seu MERDA!
9) Como questionamento dirigido:
Fez MERDA, né?
10) Como indicador visual:
Não se enxerga MERDA nenhuma!
11) Como elemento de indicação do caminho a ser percorrido:
Por  que você não vai a MERDA?
12) Como especulação de conhecimento e surpresa:
Que MERDA é essa?
13) Como constatação da situação financeira de um indivíduo:
Ele  está na MERDA...
14) Como indicador de ressentimento natalino:
Não ganhei MERDA nenhuma de presente!
15) Como indicador de admiração:
Puta MERDA!
16) Como indicador de rejeição:
Puta MERDA!
17) Como indicador de espécie:
O que esse MERDA pensa que é?
18) Como indicador de continuidade:
Tô na mesma MERDA de sempre.
19) Como indicador de desordem:
Tá tudo uma MERDA!
20) Como constatação científica dos resultados da alquimia:
Tudo o que ele toca vira MERDA!
21) Como resultado aplicativo:
Deu MERDA.
22) Como indicador de performance esportiva:
O São Paulo não está jogando MERDA nenhuma!!!
23) Como constatação negativa:
Que MERDA!
24) Como classificação literária:
Êita textinho de MERDA!!!
25) Como qualificação de governo:
O governo só faz MERDA!
26) Como situação de 'orgulho/metidez' :
Ela se acha e não tem 'MERDA NENHUMA!'
27) Como indicativo de ocupação:
Para ter lido até aqui, é sinal que não está fazendo MERDA nenhuma!!!

Para pensar um pouquinho

“ Quando a última arvore cair, derrubada; quando o último rio for envenenado; quando o último peixe for pescado, só então nos daremos conta de que dinheiro é coisa que não se come.”

(Índios Amazônicos).

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

FELIZ DIA DA ÁRVORE!!!!!

minha homenagem a esse grande dia!

arvore

árvore da praça Dr. Jorge – Lavras MG (vista da minha janela)

não me perguntem o nome dela que eu não sei... (olha que eu faço eng. Florestal)

Soneto do Amor Total

 

Amo-te tanto meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

                                Vinicius de Moraes

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Mentiras

Adriana Calcanhotto

Composição: Adriana Calcanhotto

Nada ficou no lugar
Eu quero quebrar essas xícaras
Eu vou enganar o diabo
Eu quero acordar sua família...

Eu vou escrever no seu muro
E violentar o seu gosto
Eu quero roubar no seu jogo
Eu já arranhei os seus discos...

Que é pra ver se você volta,
Que é pra ver se você vem,
Que é pra ver se você olha,
Pra mim...

Nada ficou no lugar
Eu quero entregar suas mentiras
Eu vou invadir sua aula
Queria falar sua língua...

Eu vou publicar os seus segredos
Eu vou mergulhar sua guia
Eu vou derramar nos seus planos
O resto da minha alegria...

Que é pra ver se você volta,
Que é pra ver se você vem,
Que é pra ver se você olha,
Pra mim...(2x)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Para o Prof. Fortunato

Ele chamou a gente de sem cultura ontem, para mostrar o contrário, sem fazer equação nenhuma, coloquei esse lindo soneto de Olavo Bilac no verso da folha de exercícios:

VIA LÁCTEA

"ora (direis) ouvir estrelas! certo
perdeste o senso!" e eu vos direi, no entanto,
que, para ouví-las, muita vez desperto
e abro as janelas, pálido de espanto...

e conversamos toda a noite, enquanto
a via-láctea, como um pálio aberto,
cintila. e, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
inda as procuro pelo céu deserto.

direis agora: "tresloucado amigo!
que conversas com elas? que sentido
tem o que dizem, quando estão contigo?"

e eu vos direi: "amai para entendê-las!
pois só quem ama pode ter ouvido
capaz de ouvir e de entender estrelas."

Olavo Bilac

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O Caderno

Composição: Toquinho/Mutinho

Sou eu que vou seguir você
Do primeiro rabisco até o bê-a-bá
Em todos os desenhos
Coloridos vou estar
A casa, a montanha, duas nuvens no céu
E um sol a sorrir no papel

Sou eu que vou ser seu colega
Seus problemas ajudar a resolver
Te acompanhar nas provas bimestrais
Você vai ver
Serei de você confidente fiel
Se seu pranto molhar meu papel

Sou eu que vou ser seu amigo
Vou lhe dar abrigo
Se você quiser
Quando surgirem seus primeiros raios de mulher
A vida se abrirá num feroz carrossel
E você vai rasgar meu papel

O que está escrito em mim
Comigo ficará guardado
Se lhe dá prazer
A vida segue sempre em frente
O que se há de fazer

Só peço a você um favor
Se puder
Não me esqueça num canto qualquer

Poesia...

terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
mal de te amar neste lugar de imperfeição
onde tudo nos quebra e emudece       
onde tudo nos mente e nos separa.
    (sophia de mello breyner andersen)

domingo, 13 de setembro de 2009

Amor...

Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer

É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É nunca contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor
É ter com quem nos mata lealdade

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Tão contrario a si é o mesmo Amor?
                        (Luis Vaz de Camões)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Soneto da Hora Final

Será assim, amiga: um certo dia
Estando nós a contemplar o poente
Sentiremos no rosto, de repente,
O beijo leve de uma aragem fria

Tu me olharas silenciosamente
E eu te olharei também, com nostalgia,
E partiremos, tontos de poesia
Para a porta de treva aberta em frente

Ao transpor as fronteiras do Segredo
Eu, calmo, te direi: -Não tenhas medo
E tu, tranqüila, me dirás: -Sê forte.

E como dois antigos namorados
Noturnamente tristes e enlaçados
Nós entraremos nos jardins da morte
(Vinicius de Moraes)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

momento poético

pálida, à luz da lâmpada sombria,
sobre o leito de flores reclinada,
como a lua por noite embalsamada
entre as nuvens do amor ela dormia!

era a virgem do mar! na escuna fria
pela maré das águas embalada!
era um anjo entre nuvens d'alvorada
que em sonhos se banhava e se esquecia!

era mais bela! o seio palpitando...
negros olhos as pálpebras se abrindo...
formas nuas no leito resvalando...

não te rias de mim, meu anjo lindo!
por ti - as noites eu velei chorando!
por ti - nos sonhos morrerei sorrindo! 


                                                        Álvares de Azevedo